Se você não tem certeza se o negócio é malhar ou fechar a boca para
afinar mais, siga a sua intuição - coisa fácil para nós, mulheres, que
temos o sexto sentido apurado. A sugestão tem respaldo científico: uma
pesquisa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, divulgada em
janeiro, constatou que quem acredita que a briga com a balança está
relacionada à comida vai se dar bem se adotar uma alimentação
equilibrada. Já aquelas que desconfiam que o sedentarismo é o principal
responsável pelo excesso de peso têm melhor resultado se pegar firme na
malhação.
Os especialistas entrevistados nesta reportagem
concordam com o estudo e afirmam que conhecer o próprio corpo é o
primeiro passo para chegar mais rápido ao peso desejado. Porém, até
mesmo os experts em atividade física reconhecem que, quando o assunto é
agilizar o emagrecimento, a dieta leva vantagem. "A conta é simples:
para se livrar de 1 quilo de gordura corporal é necessário queimar cerca
de 7 mil calorias, o que só é conseguido entre 12 e 14 horas de
treinamento intenso", calcula o médico do esporte Jomar Souza,
presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
(SBMEE), de Salvador.
Em outras palavras, é mais fácil fechar a
boca e não ingerir em fração de segundos as cerca de 400 calorias
fornecidas por uma fatia fina de pavê de chocolate ou cinco biscoitos
recheadas do que eliminá-las em 40 minutos de corrida, jump ou spinning.
"É importante ressaltar que o gasto calórico numa atividade física nem
sempre é o mesmo para todo mundo. Dependendo do exercício e do
condicionamento físico, uma pessoa que está no peso ideal, por exemplo,
pode eliminar até 700 calorias em uma hora enquanto uma obesa ou com
sobrepeso pode chegar a 300, pois não consegue manter o ritmo ou
executar os movimentos corretamente", avisa o fisiologista do esporte
Paulo Zogaib, do departamento de fisiologia do esporte da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). A afirmação é endossada por um
levantamento feito pelo Centro Pennington de Pesquisa Biomédica, nos
Estados Unidos, publicado em outubro de 2012 no jornal científico Obesity Reviews.
Depois de analisar 15 trabalhos científicos que envolviam 657 pessoas,
os pesquisadores descobriram: aquelas que não alteraram a dieta, mas
correram ou caminharam de três a 64 semanas, apresentaram uma perda de
peso inferior ao esperado, em torno de 2 a 3 quilos.
Um mais um é mais que dois
Tudo
bem que o placar é a favor da reeducação alimentar, mas os
especialistas, inclusive os de nutrição, são unânimes em afirmar que
combinar dieta e ginástica é a forma mais saudável de perder peso. A
nutricionista Cinthia Azevedo de Souza, supervisora de nutrição da Casa
de Saúde São José, no Rio de Janeiro, explica o porquê: "Enquanto a
comida atende às necessidades energéticas e nutricionais do organismo,
os exercícios ativam o metabolismo e favorecem a queima das calorias
acumuladas em forma de gordura". Isso sem contar os outros benefícios,
como deixar as coxas e o bumbum mais firmes, diminuir os pneuzinhos e a
celulite, regular os níveis de glicemia, colesterol, triglicérides e
pressão arterial, aumentar o pique e a sensação de bem-estar - que,
vamos combinar, é um ingrediente e tanto para que você continue motivada
a seguir em frente no seu plano de emagrecimento.
Mas se você
ainda não se convenceu de que a melhor saída é apostar na dupla
alimentação e ginástica, vamos aos números: para perder 1 quilo por
semana apenas com dieta é necessário cortar cerca de mil calorias por
dia do cardápio. Agora, se a opção for malhar, vai ter que arranjar um
modo de gastar mil calorias a mais por dia. Porém, se aliar as duas
coisas, você tem direito a comer um pouco mais e suar um pouco menos.
"Além disso, fazer uma reeducação alimentar em detrimento da atividade
física ou vice-versa aumenta o risco do benefício ser temporário",
adianta o nutrólogo Ricardo Rosenfeld, chefe da equipe de terapia
nutricional da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, e
vice-presidente da Federação Latino-Americana de Metabolismo e Nutrição
(Felanpe).
A única cilada do mix dieta e fitness que muitas
mulheres caem é superestimar o total de calorias queimado durante os
exercícios e subestimar o tanto que comem. Resultado: elas se dão ao
direito de comer mais do que deveriam só porque malham.
Para fugir
dessa roubada, a psicóloga do esporte Sâmia Hallage, da seleção
brasileira de vôlei de praia masculino, de São Paulo, ensina uma regra:
"Tenha sempre em mente a quantidade real de calorias que você ingere e
quanto cada atividade física é capaz de queimar". Depois, é só cruzar os
dados de forma que sempre haja um saldo negativo de calorias.
"Estabelecer metas e pensar no corpo que deseja alcançar, e não num
prato delicioso ou no cansaço gerado pelo exercício, também é uma
estratégia para continuar no processo de perda de peso." É a troca do
prazer imediato pelo prazer a longo prazo - que vale muito mais a pena!
Qual a é a dieta que bate o exercício?A
resposta está na alimentação equilibrada. "Aquela que inclui de tudo um
pouco para garantir todos os nutrientes que o organismo precisa", diz
Cynthia Antonaccio, nutricionista da Equilibrium Consultoria, em São
Paulo. O resultado que você vê no espelho também tem muito a ver com a
qualidade do que come. Ou seja, além de cortar calorias, é importante
trocar os carboidratos refinados pelos integrais e dar mais espaço no
prato para as proteínas magras e as gorduras boas, além de consumir
frutas, verduras e legumes variados. Para quem sabe de tudo isso, mas na
hora do desespero apela para dietas restritivas, a professora de
educação física Carolina Magalhães, do Centro de Práticas Esportivas da
Universidade de São Paulo (Cepeusp), avisa: "Você até pode emagrecer
rapidamente, mas não consegue levar o plano por muito tempo, o que é
frustrante". Outro ponto negativo do regime radical é que a pessoa tende
a entrar num estado de privação, em que sente vontade de comer
desesperadamente sempre que surge uma brecha. "Isso sem contar que o
metabolismo fica lento. Daí, ao voltar para a alimentação convencional, é
mais fácil recuperar o peso perdido ou muito mais", conclui a psicóloga
do esporte Sâmia Hallage.